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Foto do escritorVitor Facchi

Embarque OUTRIDE: Pico Agudo (Sapopema/PR)

Atualizado: 9 de mar. de 2022


Fonte: Keila Kubo | Turistando pelo Paraná

Se você começou a ler achando que escalar um pico não é pra você, eu quero contar uma pequena história antes de descrever o roteiro de viagem:


Eu, Vitor, era daquelas pessoas que quase todo o tempo estava fechado em casa com os olhos grudados em alguma tela conectada à internet, rolando os feeds intermináveis do Facebook e Instagram atrás de algo que me animasse. Às vezes via uns posts de pessoas fazendo trilhas, escalando montanhas, fazendo percursos gigantescos e nada confortáveis para assistir o nascer do sol em cima de uma montanha. Algumas exaustas que quase desistiram no trajeto, mas que ao chegar lá em cima se diziam recompensadas, felizes, e que fariam tudo aquilo de novo.


“Sorte de quem mora perto de um lugar assim” - pensava. Sempre gostei de contemplar a natureza e achava o máximo me imaginar nessas expedições, mas isso era coisa pra quem mora minimamente perto de um desses cartões postais. Eu não tinha nem tempo, nem condições para fazer uma viagem para longe visitar esses lugares estonteantes.


Certo dia conversando com um amigo, o Lucas Cois, ele me contou que tinha o sonho de escalar o tal do Pico Agudo. Eu nunca sequer havia ouvido falar desse lugar antes. Ele me mandou algumas fotos que achou no Google e eu fiquei encantado. O lugar era lindo, parecia um wallpaper do Windows, de tão perfeito. Uma das fotos tiradas nesse pico foi ao amanhecer: o sol avermelhado, ainda tímido começando a aparecer e iluminando aquele vale, onde a névoa sobre o rio parecia nuvens fofas.


Fonte: Pratique Turismo Regional / Google Images

"Vamos?" – disse ele. – "Meu sonho é escalar esse pico mas eu nunca achei alguém parceiro para ir”


Eu respondi: "Querer eu queria, mas não tenho condições de pegar avião e ir pra um lugar desses, fora que pra escalar isso tem que ter treinamento."


– "Avião? Mano, isso fica há umas 2 horas daqui de Apucarana, é só pegar o carro e ir.”


Eu demorei para acreditar que aquilo era realmente perto de onde eu morava. Nunca sequer havia ouvido falar desse pico. Não fazia sentido.


Mesmo inexperiente com escaladas, eu topei o desafio de me aventurar e conhecer o tal Pico Agudo, até porque esse papo de “se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé” é só ditado. Se você não tomar o primeiro passo para iniciar uma aventura e sair da sua zona de conforto, você só vai ficar vendo fotos pelo Google mesmo.


RUMO AO PICO


Para quem não conhece, o Pico Agudo é uma das elevações da Serra dos Agudos, no Vale do Rio Tibagi, norte do Paraná. Seu acesso se dá pela cidade de Sapopema através da PR-090. São aproximadamente 30km do centro da cidade até o acesso a Fazenda Zamarian, onde o pico está localizado. O acesso até o pico é liberado aos sábados, domingos e feriados, entre as 4h e 19h.


Ao chegar na fazenda, você estaciona o seu veículo no gramado e dirige-se à recepção para registrar seu nome e receber o capacete e a lanterna para a sua escalada. O valor é de R$20,00 por pessoa. Para quem quer acompanhar o amanhecer, o atendimento começa a partir das 4h da manhã.



Rota para a entrada do pico usando Londrina, a maior cidade mais próxima como base. (Fonte: Google Maps)

Foi o que fizemos: saímos de madrugada (após uma noite mal dormida pela ansiedade de fazer a primeira escalada de nossas vidas) e chegamos no primeiro horário para poder acompanhar a alvorada do sol. Registro feito, mochila nas costas, celular na mão, capacete e lanterna na cabeça e era chegada a hora de fazer acontecer.


São aproximadamente 3,5 km de trajeto até o topo, que levaram cerca de 2 horas para serem completados (lembre-se que éramos dois inexperientes, lidando com o misto de sedentarismo e adrenalina). O trajeto é o que chamam de "escalaminhada" ou seja, escalada e caminhada intercalados. A primeira parte do trajeto é uma caminhada em meio a uma densa floresta, com partes estreitas onde se deve tomar bastante cuidado onde pisa. Algumas subidas precisamos usar galhos e raízes de árvore como apoio, pois a subida era íngreme e o musgo sobre as pedras deixava tudo escorregadio.


Na segunda parte você sai da floresta densa e começa a ter uma visão panorâmica do Vale do Tibagi. É de encher os olhos!



Metade do trajeto: o Vale do Tibagi ao fundo (Foto: Lucas Cois)

Você olha para baixo e vê o tanto que escalou.

Olha para o horizonte e vê aquela imensidão da natureza.

Olha pra cima e vê que está na metade do caminho.

É um gás para continuar a jornada.


Essa parte da trilha é pedregosa, então é importante tomar cuidado para não escorregar nas pedras rolantes e acabar torcendo o pé (falo isso porque perdi a conta de quantos escorregões eu tomei). Alguns trechos você precisa subir por uma espécie de ganchos presos as pedras que funcionam como se fossem degraus e em outros, você precisa se segurar em correntes e usar seu corpo de apoio contra as paredes de pedra para subir e dar continuidade na trilha. Exige força e um pouquinho de resistência, mas não é nada que um mero mortal (e sedentário, como nós) não consiga fazer.


Tudo isso com a vista do vale e o clarão do sol começando a aparecer ao redor das outras montanhas. Apesar do cansaço, quanto mais você sobe, mais a vista te recompensa.





CHEGADA AO TOPO


Nessa parte do texto, eu juro que mesmo que eu escrevesse o mais detalhado possível, eu ainda não conseguiria expressar a beleza daquele lugar e a sensação de vitória, de conquista, de realização pessoal em ter superado todo o cansaço e ter chego ao topo do Pico Agudo. Finalmente eu pude entender aquele papo quando os aventureiros diziam que "a maior recompensa era a vista que se tinha". Eles estavam certos.



Do topo, você consegue ver a Serra dos Agudos e as corredeiras do Rio Tibagi. Dependendo da época do ano, logo ao amanhecer você vê o leito do rio coberto por uma espessa névoa, mas que conforme o sol se ergue, se dissipa e revela as corredeiras do rio. Uma paisagem muito mais bonita do que eu havia visto nas fotos.



O frio tênue no amanhecer de um mês de agosto proporcionou essa vista linda. (Foto: Vitor Facchi)


NA DESCIDA, TODO SANTO AJUDA NÉ?


A resposta é um doído "não". Pelo contrário! Em um trajeto de escalada, a descida geralmente é mais intensa que a subida, e esse foi o caso.


São dois fatores: o primeiro, para quem não está acostumado é o cansaço da subida. O segundo fator chama-se 'gravidade': na descida, todo o peso do seu corpo (e da sua mochila) é projetado contra os seus joelhos, por isso é extremamente importante estar com um calçado confortável e resistente e ter cuidado onde pisa: lembre-se das pedras rolantes e escorregadias? Pois é. Minha recomendação é tentar amortecer a pisada deixando o pé "de lado" durante a descida e se apoiar no que puder: parede de pedras, galhos firmes, raízes de árvores… tudo é válido.



Seja na subida ou na descida, olhe bem aonde pisa! (Foto: Vitor Facchi)


Dependendo do horário que você começou a escalada, pode ser que na primeira parte da descida você pegue um sol lascado, então é importante o uso de protetor solar e de um boné. Na segunda parte, a mata fechada deixa tudo mais tranquilo e fresco.


Aí é só retornar a recepção, devolver os apetrechos e seguir caminho de volta para casa. Eu aposto que mesmo com os pés e pernas cansadas, você vai olhar para o pico através da janela do carro pensando quando e onde será a próxima escalada.



APRENDENDO COM OS ERROS


Como nunca havíamos ido a uma aventura dessas antes, levamos um monte de coisa desnecessária nas mochilas que só pesaram e dificultaram nos 3,5km de escalada. Se o seu objetivo é apenas uma escalada "bate e volta" para apreciar o amanhecer, leve bastante água e alguns snacks para você lanchar no meio do caminho. Lembre-se que tem a ida e a volta, então leve o necessário para as duas partes do trajeto.


Prefira usar roupas leves. Dependendo da época do ano, venta bastante e faz frio no trajeto, porém com o esforço do trajeto, você sentirá calor e precisará guardar a jaqueta ou blusa, aí a melhor alternativa é amarrar na cintura e seguir viagem.


Por último mas não menos importante, use calçados resistentes como botinas e botas para a escalada e que sejam confortáveis, pois o esforço exigido nos pés é grande.



Tá pesado né moço? (Foto: Vitor Facchi)


POR FIM


Por muito tempo, mesmo tendo vontade de fazer um rolê assim, sempre me limitei dizendo que não seria capaz ou que não teria um lugar assim próximo de mim. Como eu me arrependo de não ter começado a fazer isso antes...


Existem locais incríveis bem pertinho de onde a gente mora e muitas vezes nem nos damos conta. Culpa da rotina que nos cega e nos faz achar que a vida é somente trabalhar e que o descanso é ficar olhando rede social até dormir.


A escalada ao pico foi uma libertação pessoal. Os dias seguintes foram só olhando as fotos, contando pra tudo e todos o quão incrível é fazer um rolê desses e encorajando as pessoas a trilharem seus próprios caminhos, a saírem da mesmice e irem explorar esse mundão.


E quando eu digo "explorar esse mundão", não precisa ser longe não. Comece explorando a sua região, a cidade onde vive, o estado em que mora... tenho certeza que você vai ficar encantado e orgulhoso das belezas de onde você mora.



Trilhe a sua própria jornada. (Foto: Lucas Cois)
VITOR FACCHI
EMBAIXADOR OUTRIDE

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